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terça-feira, 4 de maio de 2010

Precisa-se de sangue, qualquer tipo.


Não sou capaz de enumerar quantos e-mails já recebi pedindo doações sanguíneas para pacientes em estado grave, ou mesmo aqueles que irão passar por cirurgia e necessitam de doadores.
Quando não são parentes, conhecidos ou amigos de nossos amigos, não damos muita importância ou até mesmo nem chegamos a ler estas mensagens, deletando-as imediatamente.
Não sei se é por algum trauma, trago na lembrança aquela época na infância, na minha querida cidade de Inhumas, no Hospital São Sebastião, quando era levado a fazer exames de rotina.
E é justamente dentro de um Hospital, quando se é criança, que constatamos a existência de crianças mais escandalosa do que outras, gritos dos pequenos desbocados ecoavam nos corredores e ficariam gravados em minha memória por toda a vida.
Se eu disser ao leitor que é indolor o ato de doar sangue, estaria mentindo, é meio desconfortável ouvir os comentários na sala de espera, que doação é assim ou assado, que dói mais ou dói menos, enfim, é uma verdadeira tortura psicológica, o segredo, porém, é olhar pro lado e puxar assunto com a enfermeira, até que se receba um furinho no dedo ainda na fase de triagem, passa rapidinho, coisinha de nada, é como se fosse uma picadinha de inseto, pronto, que alívio!
Passado o trauma inicial, onde é detectado qual o tipo sanguíneo do paciente ou se o mesmo é portador de anemia, é preciso que sejam respondidas algumas questões de foro íntimo, como por exemplo, se o indivíduo é casado, usuário de drogas injetáveis, se já passou por cirurgia recentemente, se é portador de alguma doença, dentre outros questionamentos.
A avaliação sendo positiva haverá o encaminhamento do doador para a sala de coleta, onde estão uma série de poltronas enfileiradas na horizontal, tipo aquelas de consultório dentário.
Sente-se e relaxe, escolha o braço serre o punho e pronto, lá vem a picadinha de novo, um ardidinho de nada, já passou...
Um contínuo movimento de abrir e fechar as mãos se faz necessário, para um melhor bombeamento do sangue que está sendo coletado até a bolsa, através de uma máquina coletora. Ao término da coleta, a máquina faz um bip alertando as enfermeiras sobre a finalização do processo.
Antigamente, eu tinha uma visão muito egoísta no que se refere à doação de sangue, me concentrava somente naquela lembrança de infância, que ressurgia todas as vezes que adentrava a um hospital, bastava o cheiro do éter para reavivar na memória, a meninada gritando e chorando no meu subconsciente.
Até que numa determinada fase da vida, fui surpreendido com um câncer na Dindinha, era assim que tratávamos a nossa querida avó, logo ela, a matriarca da família, a pessoa conselheira, tão amada e confidente, que segurava as pontas e conseguia conservar a união e o vínculo familiar, ela era franzina fisicamente, mas uma verdadeira fortaleza moral.
Todas as providências foram tomadas, ela precisou se submeter uma cirurgia para a retirada da bexiga e precisava de sangue, através de amigos, familiares e voluntários conseguimos doadores, mas tudo foi em vão, era chegado o momento de sua partida, não tinha jeito, e lá se foi a Dindinha morar com Deus.
Depois desta triste passagem, prometi a mim mesmo que doaria sangue sempre, e assim o faço, de dois em dois meses lá vou eu de novo e as picadinhas nada significam diante da grandeza de sentir a indescritível sensação de estar podendo ajudar a salvar uma vida.
E foi assim, durante o tempo em que fiquei deitado na Associação de Combate ao Câncer em Goiás em frente ao Hospital Araújo Jorge, doando sangue e refletindo, o quanto Deus é maravilhoso pra nós; eu passava por todo aquele ritual, gozando da mais perfeita saúde, e do outro lado da rua, encontravam-se dezenas, talvez centenas de doentes acometidos pelo câncer, este terrível mal, que assola a humanidade.
De todos os tipos, em todos os órgãos, nos ossos, na pele, nos seios, na próstata, nos membros, no rico, no pobre, no preto, no branco, no baixo, no alto, na criança, no jovem, no adulto, no idoso, enfim, uma doença que não escolhe como, quem, nem muito menos quando, ela apenas se manifesta e age, e quando não é descoberta e tratada a tempo o óbito é certo, por isso, a importância da realização de exames preventivos, periodicamente.
Aqui no Brasil temos várias pessoas anônimas, que não se entregam e tem uma sobrevida considerável, conquistando até a cura em muitos casos, por outro lado, gente famosa, que também não esta livre deste mal, serve de exemplo de superação e perseverança, como é o caso do Vice-Presidente da República José de Alencar, da Apresentadora Ana Maria Braga e o caso mais recente da também apresentadora Hebe Camargo do SBT, que se encontra em mais evidência na mídia ultimamente.
Anônimos ou famosos o sofrimento é o mesmo, são passagens que temos de enfrentar em nossas vidas, sempre cultivando a paciência, a coragem, a fé e principalmente a solidariedade para com o próximo.
Hoje eu sei, não deveria ter esperado a dor, deveria ter contribuído pelo amor, mas nunca é tarde para se redimir.
Portanto, não delete esta mensagem, precisa-se de sangue de qualquer tipo.


Luiz Bruno Roriz
Twitter.com/luizbrunororiz

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